O Anti-Cristo
Rev. David Chilton
Tradução do Rev. João
França.
De acordo com as palavras de Jesus em Mateus 24, uma
das crescentes características da época que procederia ao colapso de Israel
seria a apostasia dentro da igreja cristã.
Isto já foi mencionado antes, porém um estudo mais concentrado neste ponto
lançará muita luz sobre um bom numero de pontos da discussão relacionados no
Novo Testamento – pontos que geralmente tem sido mal compreendido.
Na
realidade os únicos casos em que
aparece o termo anticristo são os
seguintes versículos nas cartas do apóstolo João:
Filhinhos, já é a última hora; e, como ouvistes que
vem o anticristo, também, agora, muitos anticristos têm surgido; pelo que
conhecemos que é a última hora. Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram
dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco;
todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos
nossos. Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é
o anticristo, o que nega o Pai e o Filho. Todo aquele que nega o Filho, esse
não tem o Pai; aquele que confessa o Filho tem igualmente o Pai. Isto que vos
acabo de escrever é acerca dos que vos procuram enganar.
(1ª João 2.18-19, 22-23, ARA)
Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes,
provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm
saído pelo mundo fora. Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que
confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não
confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do
anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está
no mundo. Filhinhos, vós sois de Deus e tendes vencido os falsos profetas,
porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo. Eles
procedem do mundo; por essa razão, falam da parte do mundo, e o mundo os ouve.
Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da
parte de Deus não nos ouve. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito
do erro.
(1ª João 4.1-6 ARA)
Porque muitos enganadores têm saído pelo mundo fora,
os quais não confessam Jesus Cristo vindo em carne; assim é o enganador e o
anticristo. Acautelai-vos, para não perderdes aquilo que temos realizado com
esforço, mas para receberdes completo galardão. Todo aquele que ultrapassa a
doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na
doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho. Se alguém vem ter convosco e não
traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas.
Porquanto aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras más.
(2ª João 7-11 ARA)
Os textos citados acima compreendem
todas as passagens bíblicas que mencionam a palavra anticristo, e delas podemos extrair várias conclusões importantes:
Primeira, os cristãos já haviam sido advertidos da vinda do anticristo (1ª
João 2.18; 4.3).
Segunda, não havia apenas um, mas “muitos anticristos” (1ª João 2.18), por
conseguinte, o termo anticristo não pode ser simplesmente a
designação de um indivíduo.
Terceira, o anticristo já estava em operação, como escreveu
João: “muitos anticristos têm surgido” (1ª João 2.18 ARA) “Isto que vos
acabo de escrever é acerca dos que vos procuram
enganar”. (1ª João 2.26 ARA); “este é o espírito do anticristo, a
respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente,
já está no mundo.” (1ª João 4.3 ARA); “Porque muitos enganadores
têm saído pelo mundo fora, [...] assim é
o enganador e o anticristo.” (2ª João 1.7 ARA). Obviamente, se o
anticristo já estava presente no primeiro século, não era alguma figura que se
levantaria no fim do mundo.
Quarta, o anticristo era um sistema de incredulidade, particularmente
a heresia de negar a pessoa e a obra de Cristo Jesus. Ainda que os anticristos
aparentemente afirmavam pertencer ao Pai, ensinavam que Jesus não era o Cristo
(João 2.22); junto com os falsos profetas (1ª João 4.1), negavam a encarnação
(1ª João 4.3; 2ª João 7,9); e rejeitavam a doutrina apostólica (1ª João 4.6).
Quinta,
os anticristos haviam sido membros da igreja cristã, porém haviam apostatado
(1ª João 2.19). Agora estes apóstatas tentavam enganar a outros cristãos, para
distanciá-los da igreja completamente de Cristo Jesus (1ª João 2.26; 4.1; 2ª
João 7,10).
Juntando tudo isto, não podemos
deixar de ver que o anticristo é uma descrição tanto de um sistema de apostasia como dos apóstatas
individuais. Em outras palavras, o anticristo era o cumprimento da profecia
de Jesus de que viria um tempo de grande apostasia, quando “muitos hão de se
escandalizar, trair e odiar uns aos outros; levantar-se-ão muitos falsos
profetas e enganarão a muitos.” (Mateus 24.10-11 ARA). Como disse
João, os cristãos haviam sido advertidos da chegada do anticristo; e
efetivamente, haviam sido advertidos da chegada do anticristo; e efetivamente,
haviam surgido “muitos anticristos”. Durante um tempo, haviam crido no
evangelho; mais tarde, haviam abandonado a fé, e haviam ido por ali procurando
enganar aos outros, e se foi iniciando novas seitas ou, mais provavelmente,
tratando de trazer para os cristão pra o judaísmo – a falsa religião que
afirmava adorar ao Pai enquanto negava ao Filho. Quando a doutrina do
anticristo se entende, encaixa perfeitamente com o resto do que nos ensina o
Novo Testamento sobre a época da “última geração”.
Um dos anticristos que afligiu a
igreja primitiva foi Cerinto, líder de uma seita judaica do primeiro século.
Considerado pelos pais da igreja como “o arque herege”, e identificado como um
dos “falsos apóstolos” que se opunha a Paulo, Cerinto foi um judeu que
ingressou na igreja e começou a atrair os cristãos para fora da fé ortodoxa.
Ensinava que uma deidade menor, não é o Deus verdadeiro, havia criado o mundo
(sustentando, como os gnósticos, que Deus era super “espiritual” para ocupar-se
da realidade material). Logicamente, isto significava também a negação da
encarnação, posto que Deus não assumiria um corpo físico e uma personalidade
verdadeiramente humana. E Cerinto era consistente: declarava que Jesus havia
sido meramento um ser humano ordinário, não nascido de uma virgem; que “o cristo”
(um espírito celestial) havia descido sobre o homem Jesus quando ele foi
batizado (permitindo-lhe realizar milagres), mas que o havia abandonado na
crucificação. Também, Cerinto defendia uma doutrina da justificação pelas obras
– em particular, a absoluta necessidade de observar as ordenanças cerimoniais
do Antigo Pacto – para ser salvo.
Também, Cerinto foi aparentemente o
primeiro a ensinar que a segunda vinda anunciaria um reino de Cristo literal em
Jerusalém durante mil anos. Ainda que isto não fosse contrário ao ensino apostólico
do reino, Cerinto afirmava que um anjo lhe havia revelado esta doutrina (de
modo similar ao de Joseph Smith, um anticristo do século dezenove, que mais
tarde afirmaria haver recebido uma revelação angélica)
Os verdadeiros apóstolos se opuseram
severamente à heresia de Cerinto. Paulo admoestou as igrejas: “Mas, ainda que
nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos
pregado, seja anátema”. (Gálatas 1.8 ARA). Na mesma carta, Paulo
passou a refutar as heresias legalistas sustentadas por Cerinto. Segundo a
tradição, o apóstolo João escreveu seu evangelho e suas cartas tendo em mente a
Cerinto. (Também se nos diz que, ao entrar João no banho público, viu este
anticristo diante dele. O apóstolo deu meia volta imediatamente e saiu
correndo, enquanto exclamava: “Fujamos, antes que o prédio caia sobre nós;
porque Cerinto, o inimigo da verdade está dentro!”).
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