Por Paulo Ulisses
"[...]Por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho; porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia".
2 Timóteo 1:12
A segunda carta do apóstolo Paulo a Timóteo, é sua última carta. Ele está preso em Roma, numa masmorra fria, fétida e insalubre. Depois de ter sofrido coisas terríveis em prol do evangelho, seu fim parece que será nada glorioso. O que gostaria de destacar, é que Paulo, sabendo que sua morte se aproximava poderia ter escrito uma epístola, onde iria exortar uma igreja, ou muitas. Poderia ter redigido algo para os outros apóstolos e presbíteros, com o objetivo de encoraja-los. Mas ele prefere endereçar suas ultimas linhas a seu filho na fé Timóteo. Até aqui não há nenhum problema, no entanto ao repararmos no teor das primeiras frases do capítulo 1, veremos que se trata de alguma coisa a mais do que uma simples injeção de ânimo, mas Paulo deseja fazer com que Timóteo abrace seu ministério, e é aqui que faremos nossa análise.
Todos nós aprendemos desde muito crianças, que quando queremos encorajar alguém a fazer algo, devemos mostrar o quanto aquilo será bom e proveitoso, seja de que forma for. Encarar os medos pode fazer com que desfrutemos de sensações ou vivamos experiências formidáveis; como pular de um trampolim, experimentar um prato novo e outras coisas semelhantes. Sempre buscamos fazer com que as pessoas percebam as inúmeras vantagens que ela terá ao fazer aquilo que as estamos encorajando a fazer. No entanto o apóstolo Paulo vai totalmente de encontra a esse princípio, ao animar Timóteo ele faz questão de deixar bem claro que ao abraçar o ministério, o jovem não terá nenhuma vantagem, pelo contrário, sofrerá, e usando a si mesmo como exemplo ele corrobora isso:
"Para o que fui constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos gentios.Por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho; porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia".2 Timóteo 1:11,12
Em 2Conríntios 11:16-33, Paulo nos dá uma lista extensa de alguns dos sofrimentos que ele viveu por amor do evangelho, fome, frio, sede, naufrágios, assaltos, perseguições, e agora em suas últimas palavras a seu filho na fé Timóteo ele deseja que o jovem presbítero tome parte nesses sofrimentos (2Timóteo 2:3). Tudo isso se choca fortemente contra o que vemos no meio "evangelical", observamos pessoas assumirem a postura de pastores e obreiros, pensando desfrutar de alguma boa posição, ou que estarão em uma situação de prestígio. Somos encorajados a achar que ser cristão é algo humanamente fabuloso, estaremos caminhando rumo ao sucesso, quer ele seja financeiro, quer sentimental e etc. Mas ao lermos essa carta nós percebemos que o evangelho não é nada disso, mas sim sofrer por amor a Cristo, padecer nesta vida por caminharmos na contra-mão do mundo, mantendo nossa vida ilibada e santificada, dentro dos conceitos e vontade de Deus. Paulo não aponta para Timóteo um caminho belo e fácil, mas uma estrada sufocante, dura e até fatal. E é exatamente ai onde reside a beleza do evangelho, caminhamos com nossos corpos amortecidos, pela dura batalha, mas olhando firmemente para o alvo que é Cristo Jesus sem nos desviar para a esquerda ou para a direita. Sofrendo perseguições como bons soldados de Cristo, nos despojamos das coisas dessa vida com o fim de agradar tão somente aquele que nos arregimentou para sua causa. Quando somos verdadeiramente atraídos a Cristo, nada nesse mundo passa a ter algum sentido a ponto de nos arrebatar dos caminhos do evangelho.
É esse evangelho maiúsculo que o apóstolo Paulo, aponta para Timóteo em seus últimos momentos em vida. Este é o testamento de um velho para seu filho. Esse é o último espasmo de fôlego de vida que o espírito de um mestre dá em prol de seu pupilo; mostrar-lhe um rio regado a sangue, seu próprio sangue, que desembocará em um rio de sangue, maior ainda, o sangue de Cristo, que o levará por sua vez até o porto seguro dos braços de Deus. Não deixemos que a ilusão vivida pelo mundo, de vida boa e fácil, nos roube a essência de um evangelho profundo e concreto como esse mostrado pelo apóstolo Paulo, que norteava a seu jovem aprendiz Timóteo a viver, caminhar, se gastar, sofrer e até morrer se preciso for para o êxito do evangelho, e por sua vez, para a glória de Jesus Cristo.
Segui a paz com todos!