O
CONTENTAMENTO CRISTÃO
Por
Rev. Ronaldo
Soares dos Santos*
O puritano Jeremiah Burroughs,
escreveu um tratado intitulado “A rara joia
do contentamento cristão”.[1]
Para ele, o contentamento cristão é um mistério difícil para o
homem compreender, e somente a graça de Deus é que pode nos ensinar a combinar
tristeza e alegria numa experiência comum de paz e contentamento. Para
Jeremiah, contentamento é o fruto de um coração grato.
O consumismo tem sido uma das
marcas de nossa geração. Tudo é descartável. Hoje, determinada coisa pode ser
boa para o uso até surgir à próxima inovação. O fato, é que no geral, a medida
do contentamento parece que nunca encontra o seu limite. Parece que é algo que
sempre está por acontecer, mas nunca acontece. Normalmente, dizemos que no dia
em que tivermos este ou aquele bem, ou alcançamos esta ou aquela virtude ou
graça, aí então encontramos a medida de nosso contentamento. A verdade, é que
sempre haverá algo por atingir, um bem que ainda não alcançamos, uma conquista
que nos falta e etc. Parece-nos que o contentamento está sempre na próxima
curva. Tudo isso tem levado muitos a passarem suas vidas lamentando e murmurando,
mesmo tendo o suficiente para viver. É como diz um ditado popular muito
conhecido: “vivem chorando de barriga cheia”. Isso é pecado!
Diante de tudo isso, pergunta-se:
é possível um cristão viver nesse mundo contente e satisfeito independente das circunstancias?
Sim, é possível. Em Filipenses
4.10-13, descreve o apóstolo Paulo declarando que aprendeu a viver contente “em toda e qualquer situação”. Para ele, tanto a humilhação quanto à honra, tanto a
riqueza quanto a pobreza, tanto a fartura quanto a fome, não eram
impedimento para o seu estado de contentamento. É importante
sabermos que o contentamento para Paulo não significava uma acomodação em
relação aos desafios da vida e da missão, nem tampouco um desinteresse por
melhorar e crescer. Trata-se de um estado de alma que possui em Cristo tudo
quanto lhe é necessário para sua alegria, paz e comunhão com Deus
independentemente das circunstâncias.
Então, Paulo nos diz a
razão, ou a base, para o seu contentamento: “Tudo posso naquele (Cristo)
que me fortalece” (vs. 13). Deste modo, Paulo revela que o poder fortalecedor
de Jesus é o segredo do seu contentamento.
Mas, como é possível
experimentá-lo em nossos dias? Como o Apóstolo Paulo descobriu esse segredo?
Em primeiro lugar, Paulo aprendeu – ( vs.11b). A primeira lição
que podemos tirar do estado de contentamento do Apóstolo Paulo é que ele
“aprendeu”. O verbo “aprender” refere-se
“aprender por experiência”. Isso significa dizer que esse contentamento
espiritual não era algo que ele havia assimilado imediatamente depois da
conversão. O apostolo teve que passar por várias experiências a fim de aprender
a viver contente. Ele considerava cada experiência boa ou ruim uma excelente oportunidade
para amadurecer no seu relacionamento com Cristo e encarar as adversidades da
vida de modo confiante.
Em segundo lugar, Paulo aprendeu a viver contente – (vs.11b). A palavra traduzida por contente (no grego: autarkes) significa “autossuficiente.”
Era uma das palavras prediletas dos filósofos estoicos. Os estoicos consideravam uma grande
virtude a capacidade pessoal de se distanciar das circunstancias externas e
encontrar em si mesmo os meios para lidar com quaisquer situações. Paulo usa o
mesmo termo, contudo, com uma conotação diferente. Para Paulo, o poder ou
capacidade para passar por diversas contrariedades, e ainda assim se manter
contente, não vinha dele mesmo, mas estava em Cristo – “Tudo posso naquele que me fortalece”. Paulo não estava rindo em
meio ao sofrimento; o que ele estava afirmando é que em Cristo ele podia superar
qualquer sofrimento vitoriosamente.
Em terceiro lugar, Paulo aprendeu
viver contente “em toda e qualquer
situação” – (vs.11c ). A experiência do Apostolo vivida ao longo da
sua vida com Cristo, fazia com que ele passasse as mais variáveis situações sem
perder a serenidade:
__Na hora da humilhação e exaltação: SERENO;
__Na hora da fartura e fome: SERENO;
__Na hora da abundância e escassez: SERENO.
Finalmente, Paulo declara: “Tudo posso naquele que me fortalece” – (vs.13).
As aplicações mais comuns que dão a este texto são: Tudo posso ter, fazer, adquirir, conquistar, prosperar naquele que me
fortalece. Todavia, não foi isso que Paulo pretendeu dizer. Considerando o
contexto, o que realmente Paulo quis dizer foi: “estou pronto para passar por qualquer coisa por meio da força daquele
que vive em mim.”
Era o poder de Cristo na vida do Apóstolo
Paulo que lhe dava o contentamento espiritual para viver em qualquer situação. Ele
aprendeu porque Cristo o fortalecia,
a viver contente porque Cristo o
fortalecia, em toda e qualquer situação
porque Cristo o fortalecia.
Portanto, conclui-se que, a
base do contentamento cristão é uma
completa dependência do poder de Cristo. Em Cristo temos tudo que
precisamos para viver uma vida de satisfação, paz e alegria. Ele é o Pão que sacia a nossa fome, a
água que alivia nossa sede, a luz que ilumina nossa estrada e o caminho que nos
conduz até ao céu.
Que possamos aprofundar
o nosso relacionamento com Cristo a tal ponto de não perdermos o contentamento
quando formos surpreendidos por algum infortúnio nesta vida. Antes, busquemos
nele a suficiência de que necessitamos para superar as mais variadas situações.
Cristo mesmo diz para aqueles que confiam nele: “...contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De
maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei. Assim, afirmemos
confiadamente: O Senhor é o meu auxílio, não temerei” (Hb 13.5b-6a).